segunda-feira, 27 de novembro de 2017

MITOS E PRECONCEITOS SOBRE A PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A autora Lígia Amaral no livro inicialmente ressalta através da linguagem apelativa e extremamente realista, o que estamos acostumados a encarar “crioulo doido”, “quatro olho”, “surdinho”, “cegueta”, “mula manca”, expressões que dificilmente passaríamos em nossas vidas impunes de pronunciá-las. Além do mais, quem jamais pronunciou tais expressões mesmo por brincadeira? – A intensidade dita significativamente a marca preconceituosa e inata dentro de cada um de nós, verdadeiro obstáculo natural que impede o “ser diferente” de viver em plenitude. É o que diz Lígia em seu parágrafo “...estaríamos muito perto da resposta: a presença de preconceitos e a decorrente discriminação vivida, ainda com mais intensidade, pelos significativamente diferentes, impedindo-os, muitas vezes, de vivenciar não só seus direitos de cidadãos, mas de vivenciar plenamente sua própria infância.” (sobre crocodilos e avestruzes, p.12)
               A autora conceitua de início DIFERENÇA SIGNIFICATIVA, ou seja, tudo aquilo que temos ideia e que chamamos de vocação de componentes da natureza, para entendermos nossos padrões de semelhança. Um ponto de partida é compreendermos nossas semelhanças onde estamos incluídos como seres humanos. Todos nós conseguimos definir características básicas como: cabeça, tronco e membros superiores e inferiores, reconhecimento da fala e toda motricidade humana. Isto é o normal de cada um e qualquer alteração dessa forma e função, remete-nos à categorização de diferente, desviante e com deficiência.
            Como prova dessa categorização, a autora cita em seu parágrafo o que dificilmente deixaríamos de afirmar como “tipo ideal” a ser seguido: “Todos sabemos (embora nem todos o confessemos) que em nosso contexto social esse “tipo ideal”- que na verdade faz o papel de um espelho virtual e generoso de nós mesmos- corresponde, no mínimo, a um ser: jovem, do gênero masculino, branco, cristão, heterossexual, física e mentalmente perfeito, belo e produtivo.”
            Qualquer que seja o distanciamento dessas condições, causaria a categorização depreciativa ou validação do outro. Perpetuar e reconhecer esse “tipo ideal” é legitimar o preconceito e estigma. O reconhecimento do preconceito deveria ser sob caráter essencialmente reflexivo, avaliando e contextualizando o questionamento da normalidade e anormalidade que, geralmente levamos a julgar algo ou alguém.
            O que é ser diferente? Todos nós somos diferentes, mas porque então as pessoas querem que você seja como elas, fale como elas, se vista como elas, tenham atitudes que elas?
            O que realmente há, é a intolerância diante das diferenças, tanto das físicas, como as de personalidade ou de comportamento. E se você não se enquadra no nos parâmetros da sociedade ou do grupo, assim como sua fala ou suas atitudes, quer dizer que você é diferente delas, infelizmente é assim a sociedade de hoje. A diferença é saudável, é com ela que refletimos, que encontramos caminhos, e tudo isso nos torna mais flexíveis, nos dá maior sabedoria para enfrentar as dificuldades, de entender que nem tudo é como acreditamos, que nem sempre a tirania de nossa mente, de nossos desejos prevalecem diante do outro, que não somos os donos da verdade e se esta verdade existe mesmo, pode ter certeza de que cada um tem a sua, que muitas vezes estamos tão acostumados a questionar, criticar e dominar, que esquecemos que somos humanos, que esquecemos de nos perguntar “o que sou?”.
            Quando entendermos a “diferença” não como afastamento, ostracismo, mas como a oportunidade de vivenciarmos novas possibilidades de convívio diante de limitações, entenderemos o quanto somos limitados/as quando não nos damos a chance de vermos a nós mesmos no outro, mas também aprendemos que um mundo de possibilidades é possível quando enxergamos no outro não seus possíveis “defeitos”, mas as suas nuances infinitas que podem contribuir para valorizarmos cada vez mais a vida e a dignidade humana, este sim, deve ser o parâmetro para qualquer relação humana, seja na escola ou fora dela.
            Conclusivamente, externamos a necessidade de sairmos da posição de avestruzes, transformando nossos pensamentos e anseios em objetivações, em ações práticas que se materializem no dia-a-dia, utilizando as pontes movediças do conhecimento teórico-científico para transitar de maneira segura pelo rio das relações intra e interpessoais, que estão repletas de crocodilos que levam a tonalidade e o peso do preconceito, do estereótipo e do estigma.



AMARAL, L. A. Sobre Crocodilos e Avestruzes: Falando de Diferenças Físicas, Preconceitos e Sua Superação. In: AQUINO, J. G. (org.). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998, 5ª edição, p. 11-30.

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